Contexto
Um dos principais “problemas” da nossa sociedade prende-se com os níveis
extremamente baixos de participação cívica.
Numa sociedade de consumo, em que os centros de poder e decisão (económicos
e políticos) se encontram demasiadamente longe do “cidadão comum”, urge
capacitar os indivíduos para o seu potencial de intervenção e acção cívica.
Um dos aspectos fundamentais passa por uma maior compreensão, reflexão e
conhecimento da sociedade/comunidade onde nos encontramos inseridos e também de
outras sociedades/comunidades que por algum motivo (trabalho, lazer, estudo)
contactamos.
O contacto que é proporcionado pelos modelos de Turismo convencionais são,
a vários níveis, bastante limitados e podem, inclusive, produzir impactos
profundos e extremamente negativos nas comunidades que deveriam, de alguma
forma, beneficiar.
Esse é talvez um dos aspectos mais negativos no designado “turismo de
massas”. Reflecte-se em fenómenos como a especulação imobiliária pelo aumento
de equipamentos turísticos (e inerente exclusão dos próprios habitantes
autóctones dos centros históricos), no desaparecimento das actividades
económicas e culturais tradicionais (sendo o tecido económico reorientado para
um oferta turística “industrializada”) e diluição das especificidades culturais
locais devido ao fenómeno da globalização “homogeneizante” potenciado também
pelo próprio turismo.
Um outro aspecto pertinente a considerar prende-se com a vertente algo
hedonista e talvez um tanto egoísta inerente ao “turismo convencional”.
A motivação preponderante, senão praticamente exclusiva, do “turista
convencional” tende a seguir uma lógica de “desvinculação emocional e afectiva”
relativamente à comunidade que visita. Essencialmente o que lhe importa é o seu
próprio prazer e lazer, sendo que muitas vezes isso conduz a uma
insensibilidade tácita relativamente à realidade e problemas existentes em
determinado país/local. Fenómeno ainda mais questionável quando, vezes sem
conta, como mencionado anteriormente, é o turismo mais “parte do problema” do
que “parte da solução” para os problemas de desenvolvimento, ou
sub-desenvolvimento, de inúmeras comunidades.
Assim sendo, de que forma é que é possível viajarmos, “mergulharmos” de
forma mais profunda (e não tão superficial) na realidade das comunidades locais
contribuindo, ao mesmo tempo, para o seu desenvolvimento e bem-estar social,
económico e ecológico?
Turismo Eco-Social, conceito:
O “Turismo Eco-Social” tem por objectivo ser uma resposta, bastante
directa, a essa mesma questão.
O Turismo Eco-Social apresenta uma alternativa radicalmente diferente aos
modelos de Turismo ditos convencionais. Na verdade, apesar de por uma questão
de "comunicação” se designar como “Turismo” estamos, na verdade, mais
perante um modelo de aprendizagem de interacção inter-cultural e inter-social,
assim como de desenvolvimento local, do que propriamente perante uma forma de
“turismo” no sentido convencional do termo.
O Turismo Eco-Social radica pois num paradigma bastante diferente. O
objectivo principal não será, portanto, o de o “turista” ser um mero visitante
passageiro, focado no seu próprio prazer hedonista, mas sim alguém que
“mergulha” de forma mais profunda na realidade local, integrando-se nas
actividades locais e desenvolvendo actividades que contribuam para o bem-estar
e desenvolvimento das comunidades.
Turismo Eco-Social – contexto:
Existem já diversas iniciativas e conceitos de “Turismo Alternativo” cujo
“Turismo Eco-Social” acaba por estar imbuído do mesmo espírito.
Conceitos como o Turismo de Voluntariado, Turismo Justo, Turismo
Comunitário, WWOOF (Voluntariado em Quintas Biológicas e projectos Ecológicos)
são iniciativas e conceitos que constituem de facto alternativas de enorme
pertinência aos chamados modelos de Turismo Convencionais e que possuem
diversos elementos em comum com o espírito do Turismo Eco-Social.
Turismo Eco-Social – funcionamento:
O “Turismo Eco-Social” visa, por um lado, a utilização de infra-estruturas
existentes localmente e, por outro, o envolvimento nas actividades laborais
(nomeadamente ofícios de pequena escala), culturais, ecológicas e recreativas
locais.
Tem também como propósito proporcionar uma perspectiva da realidade local
bastante diversa e abrangente. Assim, “nichos” da população local
tendencialmente marginalizados, e numa perspectiva de “Turismo convencional”
habitualmente “a esconder” (como por exemplo “sem-abrigo”, habitantes em situação
de exclusão económica), são convidados a participar e fazer parte do processo e
dos circuitos e programas de Turismo Eco-Social. Estamos portanto perante uma
lógica profundamente integrativa.
Turismo Eco-Social – Principais virtudes:
Evidentemente os benefícios para as comunidades locais são elevados, quer
por todos aqueles recursos que são “disponibilizados” para as mesmas (humanos,
económicos, culturais, etc.), quer pela valorização dos próprios valores e
património local (quando falamos de património referimos-nos também a património
imaterial, que tende muitas vezes a ser desconsiderado ou esquecido).
Simultaneamente o benefício para o “participante” nos programas de Turismo
Eco-social é também elevado, não só pela oportunidade de conhecer e participar
na vida de uma determinada comunidade de uma forma bastante mais profunda do
que a convencional, como também pelo sentido de gratificação que advém do seu
contributo para o bem-estar da comunidade.
Turismo Eco-Social – Principais obstáculos:
Sendo um modelo de intervenção muito particular e inovador, ao mesmo tempo
acentuadamente divergente dos modelos de turismo convencionais, é natural, como
acontece em qualquer situação de introdução de um novo conceito, que a fase
inicial de divulgação e implementação possa constituir um desafio
particularmente exigente, o que por outro lado o torna ainda mais
estimulante.
Por outro lado, precisamente por ser ainda bastante recente, tem ainda um
carácter “em definição”. O que é também positivo na medida em que se encontra
bastante aberto a contributos e novas perspectivas. Sendo por isso bastante flexível.
Turismo Eco-Social – Circuitos
Os Circuitos de “Turismo Eco-Social” têm por objectivo proporcionar uma
perspectiva bem mais ampla e profunda dos locais onde decorrem. Assim sendo os
critérios inerentes à sua concepção e realização abrangem vertentes tão amplas
como: ambientais, sociais, culturais, etnográficas, económicas. Tendendo os
critérios paisagísticos a ser menos “estereotipados” e muito mais
diversificados.
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