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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Turismo Eco-Social

Contexto
Um dos principais “problemas” da nossa sociedade prende-se com os níveis extremamente baixos de participação cívica.
Numa sociedade de consumo, em que os centros de poder e decisão (económicos e políticos) se encontram demasiadamente longe do “cidadão comum”, urge capacitar os indivíduos para o seu potencial de intervenção e acção cívica.
Um dos aspectos fundamentais passa por uma maior compreensão, reflexão e conhecimento da sociedade/comunidade onde nos encontramos inseridos e também de outras sociedades/comunidades que por algum motivo (trabalho, lazer, estudo) contactamos. 

O contacto que é proporcionado pelos modelos de Turismo convencionais são, a vários níveis, bastante limitados e podem, inclusive, produzir impactos profundos e extremamente negativos nas comunidades que deveriam, de alguma forma, beneficiar.
Esse é talvez um dos aspectos mais negativos no designado “turismo de massas”. Reflecte-se em fenómenos como a especulação imobiliária pelo aumento de equipamentos turísticos (e inerente exclusão dos próprios habitantes autóctones dos centros históricos), no desaparecimento das actividades económicas e culturais tradicionais (sendo o tecido económico reorientado para um oferta turística “industrializada”) e diluição das especificidades culturais locais devido ao fenómeno da globalização “homogeneizante” potenciado também pelo próprio turismo.

Um outro aspecto pertinente a considerar prende-se com a vertente algo hedonista e talvez um tanto egoísta inerente ao “turismo convencional”.
A motivação preponderante, senão praticamente exclusiva, do “turista convencional” tende a seguir uma lógica de “desvinculação emocional e afectiva” relativamente à comunidade que visita. Essencialmente o que lhe importa é o seu próprio prazer e lazer, sendo que muitas vezes isso conduz a uma insensibilidade tácita relativamente à realidade e problemas existentes em determinado país/local. Fenómeno ainda mais questionável quando, vezes sem conta, como mencionado anteriormente, é o turismo mais “parte do problema” do que “parte da solução” para os problemas de desenvolvimento, ou sub-desenvolvimento, de inúmeras comunidades.

Assim sendo, de que forma é que é possível viajarmos, “mergulharmos” de forma mais profunda (e não tão superficial) na realidade das comunidades locais contribuindo, ao mesmo tempo, para o seu desenvolvimento e bem-estar social, económico e ecológico?

Turismo Eco-Social, conceito:
O “Turismo Eco-Social” tem por objectivo ser uma resposta, bastante directa, a essa mesma questão.
O Turismo Eco-Social apresenta uma alternativa radicalmente diferente aos modelos de Turismo ditos convencionais. Na verdade, apesar de por uma questão de "comunicação” se designar como “Turismo” estamos, na verdade, mais perante um modelo de aprendizagem de interacção inter-cultural e inter-social, assim como de desenvolvimento local, do que propriamente perante uma forma de “turismo” no sentido convencional do termo.
O Turismo Eco-Social radica pois num paradigma bastante diferente. O objectivo principal não será, portanto, o de o “turista” ser um mero visitante passageiro, focado no seu próprio prazer hedonista, mas sim alguém que “mergulha” de forma mais profunda na realidade local, integrando-se nas actividades locais e desenvolvendo actividades que contribuam para o bem-estar e desenvolvimento das comunidades. 

Turismo Eco-Social – contexto:
Existem já diversas iniciativas e conceitos de “Turismo Alternativo” cujo “Turismo Eco-Social” acaba por estar imbuído do mesmo espírito.
Conceitos como o Turismo de Voluntariado, Turismo Justo, Turismo Comunitário, WWOOF (Voluntariado em Quintas Biológicas e projectos Ecológicos) são iniciativas e conceitos que constituem de facto alternativas de enorme pertinência aos chamados modelos de Turismo Convencionais e que possuem diversos elementos em comum com o espírito do Turismo Eco-Social.

Turismo Eco-Social – funcionamento: 
O “Turismo Eco-Social” visa, por um lado, a utilização de infra-estruturas existentes localmente e, por outro, o envolvimento nas actividades laborais (nomeadamente ofícios de pequena escala), culturais, ecológicas e recreativas locais.
Tem também como propósito proporcionar uma perspectiva da realidade local bastante diversa e abrangente. Assim, “nichos” da população local tendencialmente marginalizados, e numa perspectiva de “Turismo convencional” habitualmente “a esconder” (como por exemplo “sem-abrigo”, habitantes em situação de exclusão económica), são convidados a participar e fazer parte do processo e dos circuitos e programas de Turismo Eco-Social. Estamos portanto perante uma lógica profundamente integrativa.

Turismo Eco-Social – Principais virtudes:
Evidentemente os benefícios para as comunidades locais são elevados, quer por todos aqueles recursos que são “disponibilizados” para as mesmas (humanos, económicos, culturais, etc.), quer pela valorização dos próprios valores e património local (quando falamos de património referimos-nos também a património imaterial, que tende muitas vezes a ser desconsiderado ou esquecido). 
Simultaneamente o benefício para o “participante” nos programas de Turismo Eco-social é também elevado, não só pela oportunidade de conhecer e participar na vida de uma determinada comunidade de uma forma bastante mais profunda do que a convencional, como também pelo sentido de gratificação que advém do seu contributo para o bem-estar da comunidade. 

Turismo Eco-Social – Principais obstáculos:
Sendo um modelo de intervenção muito particular e inovador, ao mesmo tempo acentuadamente divergente dos modelos de turismo convencionais, é natural, como acontece em qualquer situação de introdução de um novo conceito, que a fase inicial de divulgação e implementação possa constituir um desafio particularmente exigente, o que por outro lado o torna ainda mais estimulante. 
Por outro lado, precisamente por ser ainda bastante recente, tem ainda um carácter “em definição”. O que é também positivo na medida em que se encontra bastante aberto a contributos e novas perspectivas. Sendo por isso bastante flexível. 

Turismo Eco-Social – Circuitos 
Os Circuitos de “Turismo Eco-Social” têm por objectivo proporcionar uma perspectiva bem mais ampla e profunda dos locais onde decorrem. Assim sendo os critérios inerentes à sua concepção e realização abrangem vertentes tão amplas como: ambientais, sociais, culturais, etnográficas, económicas. Tendendo os critérios paisagísticos a ser menos “estereotipados” e muito mais diversificados.

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